08 03 SBCAT SibelePergher NotíciaRealmente é muito difícil falar de si mesmo e falar pouco, mas vou tentar esperando não esquecer de ninguém que me ajudou na minha trajetória. Sou natural de Porto Alegre (nascimento 15/03/1968), tive a oportunidade de ter uma boa formação escolar e apoio familiar, o que resultou em eu fazer o curso de Engenharia Química na UFRGS. Na época era muito difícil entrar numa federal e lembro de isso ser um dos primeiros grandes desafios na minha vida, que levou muita dedicação e estudo de minha parte. Juntamente com a Engenharia Química eu fazia faculdade de Música (Piano). Mas para a alegria de muitos ouvidos, acabei por deixar a música e me dedicar exclusivamente a engenharia química. Nesta época, estou falando entre os anos 1985 a 1990, não havia de forma consolidada a Iniciação Científica, então se fazia de forma voluntária ou com bolsas de Monitoria.

Eu tive a oportunidade de ser monitora de Química Analítica Qualitativa e fazer pesquisa com a prof. Maria Augusta de Lucca. Na época fazer uma revisão bibliográfica, significava ficar semanas na biblioteca olhando resumos de artigos no Chemical Abstracts que era vários volumes (tipo enciclopédia, talvez muitos de vocês nem saibam o que é isso). Depois de selecionar os artigos pelos resumos a gente pedia via COMUT uma cópia, que as vezes demorava meses para chegar. Hoje em dia a facilidade de acessar artigos é tão grande que falta tempo para ler.... Também fiz monitoria de Geometria Analítica (essa foi só monitoria mesmo) e monitoria de Físico- Química desenvolvendo pesquisas com a prof. Yeda Dick. Também durante a universidade tive a oportunidade de estagiar no polo petroquímico de Triunfo em duas empresas: a COPESUL que era de primeira geração e a PETROFLEX de segunda geração. Foram experiências maravilhosas, andar numa planta, ver os processos, foi muito empolgante. Nesta época de faculdade fiz amizades que duram até hoje, com o José Ribeiro Gregório (Zeca) e a Katia Bernardo Gusmão.

Quando finalizei o curso de Eng, Química (me formei dia 28 de dezembro de 1990) resolvi fazer mestrado, pois ainda tinha dúvidas se seguia a vida acadêmica ou industrial. Das possibilidades que tinha na época acabei escolhendo ir para Maringá – PR para fazer o mestrado (1990 – 1993). Fui da Primeira turma do Mestrado em Engenharia Química da UEM (a primeira a defender), fui orientada pelo Dr. Renato Sprung e era companheira de laboratório (reatores vizinhos) da Nádia ReginaCamargo Fernandes Machado (que acabamos sendo muito amigas e companheiras de vários congressos na área de catálise). Com a orientação do Renato Sprung aprendi muito, ele era aquele tipo de orientador que você ia com uma dúvida para tirar e saia com 10 (kkk). E com isso aprendi a pensar, a programar experimentos e sentir que era capaz de desenvolver qualquer pesquisa que me dessem como desafio. Tenho um carinho muito grande pelo Renato Sprung, foi realmente um orientador, um mentor, um pai. O meu mestrado eu fiz em Argilas Pilarizadas, tema que até hoje tenho muito carinho e trabalho. Durante o meu mestrado tive a oportunidade de fazerum curso do Giuseppe Giannetto na UFSCAR, nesta época conheci o Eledir Vitor Sobrinho que me ajudou muito nas análises das minhas argilas pilarizadas (na minha dissertação nos anexos aonde coloquei todos os difratogramas de Raios X aparece o operador Eledir, kk). Até hoje somos amigos, e para minha felicidade, colegas de trabalho.

Nesta mesma época conheci ao Alexandre Leiras que é meu amigão até hoje e que tenho que agradecer inúmeros apoios que ele sempre me deu nas minhas decisões (uma foi de fazer o concurso da UFRN). Eu acabei indo muito a São Carlos, para assistir defesas de teses, fazer análises etc. Conheci muita gente que até hoje tenho amizade se eu for citar todos, com certeza vou esquecer de alguém. Quando defendi o meu mestrado chamei o Dilson Cardoso para a banca (afinal eu ia tanto a São Carlos que me sentia um pouco do grupo também). Na época eu já tinha sido aceita para fazer o doutorado integral em Argilas Pilarizadas com a Sagrário Mendioróz em Madrid - Espanha. Mas durante a minha defesa de mestrado, o Dilson Cardoso me perguntou por que eu não ia para Valência que lá tinha um pesquisador chamado Avelino Corma que trabalhava com zeólitas. Eu já tinha feito o curso do Giannetto, achava o tema interessante, achei que poderia ser uma boa aprender um assunto novo. E acabei escrevendo para o CNPq e solicitando mudar a minha bolsa para em vez de eu ir para Madrid com a Sagrário ir para Valência com o Corma. São decisões que a gente toma, sem saber que resultados vamos ter.

Se eu tivesse ficado com a Sagrário teria sido colega de laboratório do Karim Sapag (que no final nos encontramos em congressos na Espanha e fizemos amizade nesta mesma época). Bom, então fui para Valência fazer meu doutorado integral. Nesta época já namorava há uns 4 anos (por carta) meu futuro marido Lucas (Argentino) e achei complicado ficar mais 4 anos longe (agora com o “charco” separando-nos) e dei um ultimato, “ou vens ou terminamos”. No final ele foi para Espanha e nos casamos em Valência. Lá eu desenvolvi a minha tese de Doutorado no Instituto de Tecnologia Química – ITQ na Universidade Politécnica de Valencia – UPV sob a orientação do Dr. Avelino Corma e Dr. Vicente Fornés (1993 - 1997). Como colegas e amigos de ITQ tive vários pesquisadores conhecidos hoje como: Fernando Rey, Cristina Martinez, Antonio Chica, Susana Valencia, Eduardo Palomares, Rut Gil, Julia Aguilar (Mexico), Lindoval Fernandes (Brasil), Pedro Arroyo (Brasil), entre outros. De chefes (pesquisadores) tínhamos além do Avelino Corma e Vicente Fornes, Agustín Martinez, José Manuel Lopez Nieto, Amparo Mistud, entre outros.

Bom, nesta época morávamos no ITQ, praticamente passávamos 16 horas por dia lá, estávamos sempre trabalhando e inventando algo. Era um ambiente muito agradável. E muitas vezes saímos do ITQ e íamos “de copas” por aí. Tempos muito bons. Eu consegui desenvolver uma tese que tenho muito orgulho, desenvolvi a ITQ-2, aprimeira zeólitadeslaminada, e isso abriu um novo campo de estudo na área de zeólitas: as zeólitas lamelares. Como resultado deste trabalho, fizemos uma patente europeia e depois mundial, a Shell comprou a patente, publicamos um artigo na Nature, foi muito legal ver todo o esforço recompensando e o resultado da tese sair do laboratório e ir para a indústria. Logo depois disso voltei para o Brasil, apesar de ter tido convites para ficar na Espanha e para ir trabalhar na Shell na Holanda, quis voltar ao Brasil. E acabei ficando 5anos vivendo de bolsas (época Fernando Henrique Cardoso), tive bolsa de recém doutor, trabalhei de professor substituto, fiz pós-doutorado, tudo na UFRGS no IQ com a Profa. Dra. Ione Maluf Baibich que tenho maior admiração e carinho. Nesta época me reencontrei com os amigos Zeca e Katia e fiz muito outros, como Roberto Fernando de Souza, MichèleOberson de Souza, Rogério Dallago, Anelise Gerbase, entre outros. Essa época de UFRGS (1998 a 2001) foi muito boa para mim, apesar de estar vivendo de bolsas e no limite, estive perto da minha família (em Porto Alegre) e tive minhas duas filhas (Caterine e Malena). Minha pesquisa nesta época foi voltada para catalisadores automotivos em que eu incorporava metalcabonilas (de Mo e W) em diferentes suportes zeolíticose mesoporosos.

Foi bem legal, aprendi muito. Nesta época fizemos uma colaboração com o PLAPIQ em Bahia Blanca onde trabalhamos com Daniel Damiani e Carlos Gigola. Neste tempo de UFRGS, eu comecei a ficar bem atuante na Catálise e participava de todos os eventos de catálise (CBCats e Iberos). Nestes eventos fiz muitos amigos um dos quais foi o saudoso Victor Teixeira, Luis Pontes, Silvia e Zeca da UNB, Marco Fraga, entre muitos outros...... Com o pessoal da UFRGS, organizamos um CBCAT em Bento Gonçalves em 2001. E nesta época eu já estava me mudando para Erechim onde consegui trabalho no Curso de Química da URI. Trabalhei em Erechim de 2001 a 2010. Lá montei o laboratório LAQAM de química ambiental e pesquisei em síntese de materiais como zeólitas e argilas pilarizadas. Nesta época tinha como colega e amigos Rogério Dallago, Fábio Garcia Penha, entre outros. Em 2010 fiz o concurso para UFRN na área de Química de Petróleo com um apoio muito grande dos amigos Alexandre Leiras, Victor Teixeira e Katia Gusmão (minha BFF). Foi uma mudança muito grande na minha vida, sair do Rio Grande do Sul para o Rio Grande do Norte.

Na UFRN eu montei o LABPEMOL, Laboratório de Peneiras Moleculares, trouxe vários alunos de Erechim para cá (mais de 12), hoje pesquisamos sobre síntese, caracterização e aplicação de peneiras moleculares.Mais especificamente sobre síntese de zeólitas, materiais mesoporosos, argilas pilarizadas, materiais lamelares pilarizados e desalminados. As aplicações são em catálise a adsorção. Na UFRN fiz muitos amigos catalíticos também como Anne Gabriella e o Vinícius Caldeira (estes dois hoje professores da UERN), entre outros.

Hoje estou como Presidente da Sociedade Brasileira de Catálise, a qual tenho muito carinho, porque me trouxe muitos amigos, muitas oportunidades de aprendizado, crescimento pessoal e profissional. Me considero uma pessoa feliz, afortunada, sempre consegui o que me predispus a fazer, e acho que foi porque sempre tive amigos que me apoiaram e sempre trabalhei muito para conseguir superar os desafios.

22 02 SBCAT EledirVitorSobrinho NotíciaComeço estas palavras parafraseando um grande amigo e recente aqui no portal SBCat - “Escrevermos sobre nós mesmos é uma tarefa ardilosa, pois ou caímos na armadilha da humildade excessiva ou na armadilha de fingirmos que alguém fala sobre nós - Alexandre Leiras”. Este relato mais parece uma estrada na Serra do Mar, cheia de curvas e cheia de belezas da natureza, sempre entre amigos. Eu me formei em Engenharia Química em dezembro de 1990, na Universidade Estadual de Maringá - UEM, Cidade onde ainda hoje mora grande parte da minha família. Foi lá, ainda no Colégio Santa Cruz que me interessei pela química nas fantásticas reações realizadas pela Irmã Celsa (in memorian) e pouco mais tarde em um programa tão importante de IC me levou ao interesse pelas “zeólitas”. Na sequência consegui um estágio no CENPES/Petrobras RJ em Janeiro de 1990, onde conheci Prof. Eduardo Falabella de Souza Aguiar (meu orientador de estágio, coorientador de Mestrado e Doutorado e exemplo na vida), os amigos José Marcos Ferreira, Alexandre Fiqueiredo, Luiz Fernando Álvaro e Marcelo Barboza, quando acompanhei testes piloto para a Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC S/A).

Em fevereiro de 1991, ingressei no Mestrado DEQ/UFScar, sob a orientação do prof Dilson Cardoso e imediatamente comecei uma negociação entre Reitoria UFScar e CENPES para um convênio “guarda-chuvas”. Convênio este que fui bolsista durante mestrado e doutorado, patrocinado pela FCC S/A. Já em março, conheci a porfª Sibele Pergher (em um curso CYTED sobre Zeólitas com Prof Gianetto) em São Carlos e ficamos amigos e companheiros de trabalho até hoje, nossa primeira cooperação científica, quando trocávamos análises e discussões sobre sínteses. Foram contemporâneos deste programa na FCC-S/A os então colegas, hoje grande amigos, Prof Alexandre Leiras, Prof. Pedro Arroyo e Prof. Lindoval Fernandes. As atividades durante o  Mestrado foram compartilhadas entre UFScar - FCC S/A - CENPES com a inestimável colaboração do Dr. Jorge Gusmão (in memorian). Já durante o período de doutorado, além destas cooperações, tive a imensa satisfação de passar um período de 17 meses na Université de Poitiers, sob a colaboração com Prof. Michael Guisnet.

Meu primeiro congresso importante foi o 7º Seminário Brasileiro de Catálise, 1993, Gramado RS, com  apresentação do trabalho “Desaluminização cíclica da zeólita Y”, trabalho este que nos levou a ganhadores do importante Prêmio Plínio Cantanhede em 1994, como melhor contribuição à ind´sutria do Petróleo, tendo concorrido 13 áreas patrocinadas pelo IBP, com mais de 10 mil trabalhos científicos realizados entre 1990 e 1994.

Em 1998, após a finalização do doutorado, passei um período de 8 meses na UFAL (como pesquisador visitante CNPq-DR, com acompanhamento da profa Maritza Montoya e Prof. Altair Marques), 20 meses na UFRN (como professor Visitante DEQ e IQ, onde fui muito bem recebido pelos profs Gilson Medeiros, Dulce Melo e Marcus Melo), 9 anos na UNIFACS Universidade Salvador (como coordenador do curso de EQ e pesquisador nas Redes RECAT e RECOL, onde tive excelentes trabalhos com Prof. Luiz Pontes, Prof. Prof. Paulo Guimarães, Prol Leonardo Teixeira e Prof.ª Luciene Carvalho), 18 meses no CENPES (como consultor de tecnologia e projetos, com Dr. Eduardo Falabella) e finalmente, voltei para a UFRN no Instituto de Química, para colaborar com a produção do Curso de Química do Petróleo, tendo sido vice-coordenador de curso e atualmente Diretor do Instituto de Química - IQ/UFRN.

Ao longo desses mais de 30 anos, foram muitas participações de Seminários e Congressos Nacionais e Internacionais, Mundial de Catálise, Mundial de Zeólitas, com destaque para a organização alguns CBCat’s e a coordenação geral do 5PDPetro (Salvador-BA). Tive muitos aluno de IC’s, de TCC’s, de mestrado e coorientações de doutorados. Fui coordenador de curso, Vice-Diretor de Departamento Engenharias (UNIFACS), Vice-coordeador de Redes de Pesquisa, Coordenador de PRH-ANP (por mais de 9 anos), consultor de projetos,  muitas colaborações de pesquisa e tecnologias. Sempre procurando a somar esforços para o desenvolvimento e as cooperações entre universidade, empresas e sociedade. Atualmente, além do trabalho administrativo na Direção do IQ/UFRN, colaboro com de grupos de pesquisa importantes neste Instituto nas áreas de Catálise, Meio Ambiente, Petróleo e Derivados.

Posso não ter citado, nas “curvas da minha estrada da serra do mar” todos os nomes de grande amigos e grandes profissionais que tive ou ainda tenho relações importantíssimas de amizade e de trabalho, mas estão todos contemplados na minha trajetória e memória.

Po último, gostaria de destacar que não há nada mais importante para um professor quando se recebe uma mensagem pessoal de final de curso ou final de tese agradecendo e demonstrando o reconhecimento pelos ensinamentos e trabalho conjunto.  Posso dizer que não foram poucos.

08 02 SBCAT MicheleOberson NotíciaSou francesa de nascimento e de formação acadêmica. Me tornei brasileira como esposa de Roberto Fernando de Souza e mãe de nossos dois filhos. Foi no Brasil onde iniciei a minha vida profissional em 1987. Iniciei meus estudos universitários na Universidade Paris XI na França, hoje Universidade Paris-Saclay, o que me permitiu integrar a Escola de Engenharia Química de Rennes (ENSCR), igualmente na França. Atraída pelos avanços tecnológicos e, devido à minha curiosidade pela ciência de forma geral, percebi que precisava continuar meus estudos antes de iniciar uma carreira profissional.

Meus primeiros contatos com a pesquisa no final de minha graduação me motivaram para concorrer a uma bolsa de Doutorado financiada pelo CERCHAR (Centro de pesquisa que trata da exploração e transformação do carvão) no famoso Institut de Recherches sur la Catalyse, hoje LRCLYON, em Lyon-França. O tema era desenvolver o “Estudo dos mecanismos de hidroliquefação do carvão na presença de catalisadores de ferro, molibdênio e estanho", tendo como objetivo produzir um combustível líquido a partir do carvão. Escolhi a área da Catálise, da qual muito pouco sabia, principalmente por poder trabalhar no então IRC, um dos mais famoso Instituto do CNRS da França na área da Química. O Dr. Henri Charcosset me selecionou após uma entrevista telefônica. De setembro 1984 a junho 1987 efetuei então meu doutorado. Foi neste período que conheci o Roberto, que era doutorando no Laboratório do Dr. Igor Tkatchenko. Imediatamente fiquei impressionada pela maturidade humana e científica do Roberto que, na época, já era reconhecido por seus pares como sendo um jovem pesquisador talentoso. Foi nessa época que decidi que dividiria a minha vida com ele, que abraçaria a sua missão para contribuir, com nossas atividades profissionais, para o desenvolvimento do Brasil e da ciência.

No então IRC, com seus mais de 100 pesquisadores, a sua comunidade internacional, suas relações com o mundo industrial, descobri a Catálise, suas múltiplas áreas fronteiras como química teórica, físico-química, inorgânica, orgânica, organometálica, analítica, eletroquímica, foto-química, materiais e todas as engenharias com aspectos de ciência fundamental, aplicações industriais e sua estreita relação com o meio produtivo. Percebi principalmente a importância de saber trabalhar com equipes de especialistas, habilidade chave para quem quer ingressar nessa área, para encontrar soluções de problemas complexos. Meu tema de pesquisa, a sua complexidade, tanto do material de partida tanto quanto dos compostos formados, exigiu um trabalho em equipe e a expertise de diversos Laboratórios que estavam organizados em um formato de rede científica, algo muito inovador para a época. Meu papel nessa estrutura foi de compilar os resultados de caracterização dos catalisadores e dos produtos de hidroliquefação extraídos após os testes catalíticos. Por um lado, desenvolvi muito minhas capacidades de organização, comunicação científica devendo dialogar com diversos especialistas, mas pelo outro, tive que conter a frustação de não poder sempre efetuar todas as etapas do desenvolvimento dos estudos. Porém, tive o privilégio de conhecer o funcionamento de cada Laboratório e neles de planejar e desenvolver pessoalmente alguns experimentos e análises. Hoje não consigo imaginar como tudo isto foi possível sem ter internet a disposição…usava-se o telefone (fixo para telefonar) e os correios. Mas com certeza, além de ter obtido uma formação solida na área da Catálise, desenvolvi minhas habilidades em trabalhar em equipe, trabalhar para o coletivo, o que acredito ser fundamental para ter um papel significativo na sociedade atual, e o caminho para deixar um legado para as gerações futuras, o que igualmente deveria ser o principal motivo de nossas atividades frente à realizações pessoais.

Cheguei em agosto 1987 em Porto Alegre, no Instituto de Química da URG como bolsista do governo francês (Programa que me foi indicado pelo Prof. Roger Frety, meu vizinho de corredor no IRC) para trabalhar com o recém contratado Prof. Roberto para iniciar um novo Laboratório, no Laboratório de Reatividade e Catálise (LRC - www.ufrgs.br/lrc/). No mês seguinte, participei do 4º Seminário Brasileiro de Catálise em Canela, apresentando oralmente em português os resultados de meu doutorado. Essa época foi sinônimo de muito trabalho e engajamento, estabelecendo relações com as indústrias do polo petroquímico vizinho, instalando o LRC, acolhendo os primeiros estudantes de Iniciação Científica e criando uma disciplina de catálise, que de forma pioneira incluiu tantos aspectos da catálise com compostos organometálicos que com compostos sólidos.

Eu decidi de deixar a área do carvão, tendo em vista que a CIENTEC tinha um centro bem avançado na área e, também para unir esforços para a criação do LRC a fim de alcançar resultados mais rapidamente. Aprendi a sintetizar complexos organometálicos sob atmosfera inerte, suportá-los sobre sólidos para produzir sistemas híbridos a serem testados na reação para a qual o Roberto tinha adquirido expertise durante seu doutorado, a oligomerização de olefinas leves. Me tornei Professora concursada do Departamento de Físico-Química em novembro 1990. Isso implicou trabalhar como educadora do ensino superior e ser pesquisadora. Duas profissões complementares e essenciais para alcançar qualidade e eficiência em ambas. Ao longo dos anos seguintes, orientei as pesquisas para responder à problemas ambientais, energéticos, tecnológicos, agregando conhecimento adquiridos na área das zeólitas durante um ano passado no Laboratório de Denise Barthomeuf em Paris em 1994 e colaborando com os membros do LRC nas diversas linhas que foram geradas ao longo dos anos. Trabalhei muito para o desenvolvimento da SBCat, da qual sou co-fundadora e foi com muita energia e prazer que ajudei em organizar vários congressos nacionais e internacionais dessa sociedade onde tenho muitos colegas e amigos e com quem colaboro regularmente. A Catálise é uma área da ciência encantadora, pois é dela que encontraremos soluções sustentáveis para resolver questões ambientais, energéticas, entre outras. Uma área que hoje tem a ciência do “bio” como mais nova fronteira, é um desafio para as jovens gerações que ingressarem na área da Catálise, o que encorajo fortemente.

15 02 SBCAT JoseGeraldoAndradePacheco NotíciaConclui o curso de Engenharia Química na UFPE e logo entrei no mestrado na COPPE. Antes de iniciar a pesquisa fui aprovado num concurso da Petrobras junto com alguns colegas de turma que foram trabalhar no CENPES. Contudo, preferi ficar no mestrado. Fiz dissertação sobre desproporcionamento de tolueno com zeólitas, visando maximizar p-xileno na produção de PET na BRASKEM. Fui orientado por Jose Luiz Monteiro (mestre na análise de processos) e Martin Schmal (poeta da catálise). Trabalhei 05 anos na BRASKEM em Camaçari-BA, com avaliação de catalisadores comerciais. Lá desenvolvi meu doutorado pela COPPE sobre conversão do metano etileno que é o principal produto da petroquímica básica. Entrei por concurso na UFBA e conclui minha tese em 1995, com orientação de Schmal e Jean Eon (mestre da catálise de precisão). Participei da criação do grupo de tecnologias limpas da UFBA.

No final de 1999 a 2000 fiz posdoc no Departamento de Ciência de Materiais na Universidade da Flórida, EUA, sobre catalisadores para oxidação de metano. Em 2001-2004 orientei vários alunos do Mestrado em Tecnologias Limpas com dissertações sobre problemas aplicados na indústria. Participei dos projetos "Braskem Água" e "Politeno Energia", obtendo soluções de redução do consumo de água e de energia. Trabalhei como perito voluntário do Ministério Publico da Bahia em Simões Filho na área de segurança em processos químicos.

Em 2003 iniciei pesquisa sobre catalisadores micro-mesoporosos para pirólise de resíduos de plásticos com prof. Antônio Araújo da UFRN. Em 2004 fiz novo concurso e me transferi para Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), retornando à Recife, minha cidade de origem. Coordenei projeto Petrobrás/FINEP/RECAT sobre desulfurização oxidativa de gasolina e diesel. Em 2006 coordenei projetos sobre biodiesel (FINEP, CNPq e BNB), resultando em publicações sobre cinética com análise online via infravermelho, destilação reativa e catalisadores heterogêneos. Em 2008 iniciei 02 projetos Petrobras sobre pirólise de resíduos de biomassa.

No período de 2011 a 2014, tive o prazer de receber Roger Frety como prof. para iniciar linha de pesquisa sobre craqueamento e pirólise de óleos vegetais residuais e compostos modelos adsorvidos em catalisadores. Devido à minha experiência em segurança e ventilação industrial, em 2012 e 2013 fui convidado para realizar consultoria em 05 Terminais da Transpetro, contribuindo com a requalificação de seus laboratórios. Em 2014-2019 realizei parceria com os professores Claudio Oller e Osvaldo Chiavone (CAPES/PROCAD) sobre degradação de micropoluentes via fotocatálise para reuso de água. Participei do projeto Petrobras Reciclagem Química de Resíduos de PET e fibras de cabos de amarração de plataformas, coordenado por Marcos Dias (Instituto de Macromoléculas/UFRJ), resultando em uma patente do processo catalítico.

Em 2013-2018 participei do projeto e da construção do prédio do Instituto de Pesquisa em Petróleo e Energia (LITPEG) financiado pela Petrobras, onde instalamos o Laboratório de Refino e Tecnologias Limpas e Unidades Piloto, junto com a professora Celmy Barbosa, a quem faço um agradecimento especial pela parceria. O apoio da Petrobras (nos nomes de Oscar, Jose André, Marlon, Lam, Falabella, Zotim, Sandra, Morgado e outros) foi fundamental para o laboratório com equipamentos para síntese, caracterização e testes catalíticos, que são compartilhados com a Rede Norte Nordeste de Catálise.

As diversas interações com a indústria permitiram adquirir experiência para ser aplicada na pesquisa e no ensino. Atualmente trabalhamos com a conversão de biomassa residual para produção de biocombustíveis e químicos, como no projeto “BioValue – Valorização da cadeia de biomassa para produção de biocombustíveis avançados”, com participação de Instituições do Brasil e Europa e apoio da Petrobras, Klabin, Suzano e Embraer. Também trabalhamos na síntese e caracterização de materiais voltados para fotocatalisadores para degradação de micropoluentes e catalisadores para reciclagem química plásticos.

Outro objetivo é a formação de recursos humanos e pesquisa em parceria com instituições no Brasil e no exterior, como as parcerias recentes na UFRN (Antonio, Sibele e Chiavone), UERN (Vinicius e Anne), UFAL (Osimar e Lenivaldo), UFBA (Frety, Carmo, Pontes, Soraia e Emerson), UFCG (Wilma, Ana Costa, Joana e Libia), UFPB (Ary e Vivian), UFRPE (Ivoneide, Claudia, Fernando e Thiberio), UPE (Leda), IFPE (Márcio e Fred), UFPA (Geraldo Narciso), USP (Claudio Oller, Antônio Carlos e Galo LeRoux), UFRJ (Falabella, Marcos Dias e Fernando Pessoa), UFMG (Flavia Moura), UFU (Ricardo e Marcos), UFRGS (Claudia Zini), Universidade de Malaga (Enrique Castellon), ITQ-Valencia (Antonio Chica), CRNS-Lyon (Nadine Essayem), USDA-EUA (Boateng). Essas parcerias são importantes não apenas para desenvolver a pesquisa, mas também para fortalecer laços de amizade com os amigos da comunidade catalítica. Faço aqui um agradecimento especial a todos os alunos, pesquisadores, pós-docs e amigos: sou muito grato a cada um de vocês por compartilhar o seu enorme talento e amizade.

01 02 SBCAT quemsomos NotíciaO trabalho de pesquisa em catálise tem para mim diversas facetas. A primeira se refere a possibilidade de contribuir para sociedade através da expressão da minha criatividade nesta área. A segunda diz respeito a oportunidade de tentar representar um exemplo de conduta ética para meus alunos, colaboradores e colegas. Finalmente a terceira, trabalhar em catálise significa me encantar a cada momento com a beleza e complexidade da natureza e do ser humano.

Minha história na Catálise começa na monitoria da turma de cinética do prof. Martin Schmal na EQ/UFRJ. Alguns anos depois, na década de 80, tive a oportunidade de participar ativamente da concepção e montagem do Laboratório de Catálise do Instituto Nacional de Tecnologia. Tempos difíceis aqueles, onde os recursos eram extremante escassos. Mas, a nossa vontade de trabalhar em catálise era tão grande que superou as dificuldades. Trabalho há décadas neste laboratório, cercada de jovens pesquisadores, alunos e pós-docs. Estou sempre focada nos estudos desenvolvidos em estreita colaboração com estas pessoas. Assim, o tempo passou sem se fazer notar. De fato, a pesquisa em catálise tem me proporcionado momentos não só felizes, mas, também muito gratificantes.

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