29 03 SBCAT noticia QuemSomosFiquei muito feliz com o convite da Dra. Sibele Pergher em nome da SBCat para compartilhar a minha trajetória.

Nasci em Nova Iguaçu, RJ e cursei o primário em escola pública. A vocação pela química começou quando ganhei de meu pai um kit de laboratório químico. Gostei tanto que tive vários. Dizia para todos que seria Cientista. Somente no segundo grau descobri que existia a Engenharia Química.

Corta para 1982, quando fui aprovado no vestibular para a Escola de Química da UFRJ. Mal servida pelo transporte público, a Ilha do Fundão tinha a instituição do ponto de carona, onde dezenas de alunos com o polegar erguido contavam com a gentileza de motoristas desconhecidos para ir e vir da UFRJ – no meu caso, me deslocar até a Av. Brasil, onde pegava o ônibus para casa.

Perrengues à parte, fui muito feliz nesses anos. Sentia orgulho de assistir aula nos anfiteatros da EQ, de transitar entre os Blocos A e E e não conhecia traje mais elegante que o jaleco branco das aulas práticas. Eu montei um laboratório químico em casa, no qual fazia diversas reações, inclusive aquelas que o Vogel recomendava não fazer...

Em 1987 eu estagiava na Bayer e seria um dos engenheiros trainees, início de uma carreira cobiçada entre nós alunos. Mas teria que renunciar ao sonho de fazer mestrado.

Quando eu estava me formando, fui aprovado no concurso CEPESQ-88 (Curso de Pesquisa e Desenvolvimento em Processos Químicos), convênio entre a Petroquisa e COPPE/UFRJ para capacitar pesquisadores para os polos petroquímicos (a Petroquisa participava de todas as empresas petroquímicas, no modelo tripartite).

Além da Petroquisa, as vagas do RJ eram para a Petroflex, Nitriflex e Fábrica Carioca de Catalisadores (FCCSA), recém-criada para produzir catalisadores de FCC (craqueamento catalítico em leito fluidizado), um produto estratégico para a indústria de refino, como a Guerra das Malvinas mostrou dolorosamente para a Argentina. Seria a primeira e até hoje a única fábrica de FCC no Hemisfério Sul.

A COPPE ministrava as disciplinas do mestrado e a Petroquisa suplementava com aulas de química orgânica avançada, quimiometria, processos petroquímicos e avaliação de projetos. Cumpridos os créditos, o aluno seria contratado e desenvolveria sua tese de mestrado em um tema de interesse da empresa.

Era a oportunidade de ouro, pois conciliava o mestrado com emprego na indústria e, com meu interesse pela catálise, a FCCSA foi a escolha natural.

A FCCSA propôs o desenvolvimento de uma rota alternativa para a síntese da zeólita Y: um cogel em substituição ao produto intermediário da tecnologia da Akzo. Fui orientado pelo saudoso Dr. Jorge Gusmão da Silva e pelo Dr. Lam Yiu Lau, que me inspira e ensina até hoje!

O desenvolvimento no Laboratório Experimental da FCCSA foi um sucesso e fizemos o scale-up na planta piloto do CENPES/Petrobras. Levamos o cogel para a escala industrial e logramos maior produção, melhor qualidade e economia no processo. Resultados tão bons que o licenciador adotou a nova tecnologia em suas plantas na Holanda e EUA.

Como essa tecnologia passou a ser segredo industrial, o tema da minha tese mudou para “Síntese e Caracterização de Faujasitas”, que defendi em julho de 1990.

Nessa época a FCCSA complementava bolsas de pós-graduação e disponibilizava o Laboratório Experimental para os alunos desenvolverem suas teses. Passaram por lá amigos queridos, como Eledir Vitor Sobrinho, Alexandre Leiras, Pedro Arroyo, Lindoval Domiciano e Débora Fortes. Ambiente de inovação e amizade, que só existiu pela genialidade do Gusmão e do Professor Eduardo Falabella, mentores desse projeto.

Fui engenheiro de acompanhamento do processo de produção da zeólita Y até 1997, quando Oscar Chamberlain me convidou para trabalhar no CENPES. A FCCSA podia ceder funcionários a outras empresas integrantes do sistema Petrobras.

No CENPES fiz P&D de zeólitas e catalisadores até 2004. Destaco nessa passagem o scale-up de síntese da zeólita ZSM-5. A partir de uma patente do Lam, fiz o desenvolvimento em escala piloto que subsidiou o projeto básico e construção da unidade industrial de ZSM-5 na Sentex. Partimos e operamos a planta em 2002.

Quando a patente da Mobil caducou, o aditivo de ZSM-5 desenvolvido no CENPES pode ser produzido industrialmente pela FCCSA e a Petrobras foi a maior usuária mundial de ZSM-5 por alguns anos.

Fiz o MBA Executivo na COPPEAD/UFRJ em 2003 e a FCCSA me chamou para coordenar o projeto conceitual de um parque tecnológico, que culminou na construção da PROCAT (Planta Protótipo de Catalisadores), unidade da EQ/UFRJ, em um terreno cedido pela FCCSA à universidade.
Em 2005 deixei a FCCSA para trabalhar na Braskem em Camaçari, BA. Nossa equipe projetou e partiu a planta piloto de eteno de álcool, tecnologia empregada nos produtos I’m Green® da Braskem.

O Dr. Luiz Fernando Leite convidou-me para participar do projeto do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ). Voltei para a FCCSA em 2007, que novamente me cedeu para a Petrobras.

A Technip Itália fazia o projeto conceitual das unidades de segunda geração do COMPERJ e fui enviado a Roma por três meses para fazer o acompanhamento. Participei de diversas missões de avaliação tecnológica, visitando empresas na China, Singapura, Tailândia, Indonésia, Alemanha, Escócia e EUA.

O COMPERJ perdeu momentum e, com a extinção da Petroquisa em janeiro de 2012, minha cessão foi extinta e voltei à FCCSA como Coordenador do Desenvolvimento de Produtos na Gerência de Marketing com o Dr. Alexandre de Figueiredo.

Iniciei meu doutorado em 2018 no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos – EPQB, da EQ/UFRJ, com o tema “Preparação, caracterização e avaliação de catalisadores de FCC de alta acessibilidade”. Tenho o privilégio de ter como orientadores dois queridos e admirados amigos, o Dr. Eduardo Falabella e o Dr. Donato Aranda.

Passei a cuidar do desenvolvimento de novos negócios seguindo a estratégia de diversificação da FCCSA. Prospectando oportunidades de negócios, desenvolvi e lancei um catalisador para reciclagem de pneus, o primeiro catalisador - e o primeiro cliente - da FCCSA em economia circular e com aplicação fora da indústria de refino de petróleo.

Atualmente sou consultor das tecnologias de produção de catalisador de FCC e faço o desenvolvimento de um catalisador para reciclagem química de plásticos. Produto pioneiro no mercado e para nós também, pois será o primeiro catalisador formatado para uso em leito fixo totalmente desenvolvido e produzido pela FCCSA.

Sou muito grato pelas oportunidades que tive na vida, pela família amorosa que me proporcionou a educação e formação para o mundo, pelo carinho, apoio e incentivo da minha esposa Marcia, pelas alegrias e aprendizado que tive sendo pai do Matheus. Fiz e conservo bons amigos que estão sempre prontos para cooperar, dar novas ideias e facilitar a execução dos meus projetos. Minhas conquistas resultam de muito trabalho, propósito e perseverança, somados ao apoio e estímulo da família e dos amigos queridos.

Topo