28 09 SBCAT Noticia FabioBellotNoronhaEu iniciei o curso de Engenharia Química na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1982. A minha história na catálise começou no último período do curso quando me inscrevi na disciplina optativa de catálise que era ministrada pelo Professor Martin Schmal. Na época ele me perguntou se eu queria fazer iniciação científica com ele no Programa de Engenharia Química (PEQ) da COPPE, mas avisou que não tinha bolsa! Foi assim que comecei a aprender sobre a preparação de catalisadores e algumas técnicas de caracterização disponíveis nos laboratórios 2 e 3 do porão do bloco H da COPPE. Como gostei muito dessa linha de pesquisa e o Schmal convencia qualquer um sobre as maravilhas da catálise, eu resolvi fazer o mestrado no PEQ/COPPE sob sua orientação e do pesquisador Roger Frety do Institut de Recherches sur la Catalyse/França, que passava um período no Brasil nessa época. Foi nesse período, estudando a aplicação de catalisadores bimetálicos na reação de hidrogenação, que fiz muitos amigos que hoje estão em diferentes universidades ensinando e trabalhando na área de catálise. 

Durante o meu mestrado eu me interessei bastante pela caracterização de catalisadores. Então, eu resolvi aprofundar e adquirir novos conhecimentos em diferentes técnicas de caraterização realizando o doutorado nessa área. Em função do meu contato com o Roger Frety, eu fui fazer um doutorado sanduíche no Institut de Recherches sur la Catalyse (IRC) em Lyon na França, e lá fiquei por quase dois anos sob a sua supervisão e do pesquisador Bernard Moraweck que viria influenciar muito os meus conhecimentos. Este período foi muito bom pois os laboratórios do IRC tinham os mais modernos equipamentos de caracterização de catalisadores, com várias técnicas realizando medidas in situ, o que não havia no Brasil naquela época. Bernard Moraweck era o responsável pela realização das medidas de espectroscopia de absorção de raios X (XAS) dos catalisadores que eram usados nos diferentes grupos de pesquisa do IRC.  Desta forma eu pude fazer um curso sobre esta técnica, aprender sobre o tratamento de dados e fazer medidas experimentais no já desativado laboratório sincrotron LURE em Orsay. Esta parceria com o Bernard continuaria ainda por muitos anos depois da minha defesa do doutorado, o que permitiu continuar usufruindo desta técnica até a entrada em funcionamento do sincrotron Brasileiro, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). Foi também durante o meu doutorado que tive as primeiras experiências com a orientação de alunos. Na época, o Schmal me convidou para coorientar informalmente dois alunos de mestrado que trabalhavam na minha linha da dissertação do mestrado.

Após a defesa do meu doutorado eu realizei um pós-doutorado na própria COPPE por um ano e meio. Particularmente, eu passei a usar o conhecimento que eu tinha adquirido sobre a técnica de XAS na França para realizar as medidas do grupo de catálise da COPPE, desde o início da operação do LNLS. Durante esse meu pós-doutorado eu acabei realizando um concurso para pesquisador no Instituto Nacional de Tecnologia (INT), no qual fui aprovado e comecei a trabalhar em 1996. A vaga era para trabalhar no laboratório de catalise do INT. Na época era um grande desafio já que o INT não tinha a moderna infraestrutura que tinha sido montada no recém criado NUCAT na COPPE. Ao mesmo tempo, eu comecei a coorientar dissertações de mestrado e teses de doutorado com o Prof. Luiz Eduardo Pizarro Borges no programa de pós-graduação em química do Instituto Militar de Engenharia (IME).

No início de 1999, o Prof. Daniel Resasco veio ao Brasil participar de um Workshop e me convidou para fazer um pós-doutorado com ele na Oklahoma University entre agosto de 1999 até fevereiro de 2000. Nesse meu pós-doutorado eu comecei a trabalhar em uma área completamente nova para mim e na qual estou até hoje: a reforma do metano com CO2, um tema que já estava atraindo muita atenção da comunidade cientifica devido aos problemas das emissões de gases do efeito estufa.

A partir de 2002 eu comecei a trabalhar mais ativamente com os temas hidrogênio e célula a combustível. Coincidentemente, o Governo Brasileiro iniciou uma série de atividades que acabaram na criação do Programa Brasileiro de Células a Combustível e Hidrogênio, do qual eu participei ativamente na sua elaboração. O programa era baseado em redes cooperativas que eram constituídas por universidades de todo o país. Eu coordenei juntamente com o Prof. Schmal a rede de produção de hidrogênio, que era constituída por 14 instituições de todo o país. Os vários projetos que realizei na linha de produção de hidrogênio e célula a combustível foram extremamente importantes pois permitiram a modernização do Laboratório de Catálise do INT.

Em 2010 eu fui convidado a fazer parte do corpo de docentes permanentes do Programa de pós-graduação em química do IME, o que foi não somente muito importante para a minha carreira, mas, também, extremamente gratificante pois também gosto muito do ensino.  Mais recentemente, em 2018, passei a integrar também o corpo de professores docentes do Programa de Engenharia de Biossistemas da Universidade Federal Fluminense. Durante toda a minha vida na catálise, eu participei na coorientação de dissertações e teses com colegas de diferentes universidades como Martin Schmal, Jose Luiz Fontes Monteiro, Lidia Chaloub Diegues, Vitor Teixeira da Silva, Fabio Souza Tonilo, Jose Carlos Pinto todos do PEQ /COPPE/UFRJ; Fabio Barboza Passos, Lisiane Veiga Mattos e Rita de Cássia Colman Simões da Universidade Federal Fluminense; Luiz Eduardo Pizarro Borges do IME; Carla Eponina Hori da Universidade Federal de Uberlândia, Soraia Brandao da Universidade Federal da Bahia, Jose Maria Correa Bueno da Universidade Federal de São Carlos.

Mais recentemente, eu comecei a trabalhar bastante no tema conversão de biomassa lignocelulósica através de diferentes tecnologias como a gaseificação, pirolise e fracionamento. Em função desta linha de pesquisa, eu acabei aceitando um novo desafio, e atualmente sou professor visitante na Ecole Centrale de Lille desde 2019.

Durante todo este meu percurso na catálise, eu sempre procurei estabelecer parcerias com professores brasileiros e estrangeiros pois acho muito gratificante a troca de conhecimentos e de experiências que temos nestas cooperações. Neste sentido, eu poderia citar como colaboradores estrangeiros: Daniel Resasco (Oklahoma University), Gary Jacobs (The University of Texas at San Antonio), Burtron H. Davis (The University of Kentucky), Xenophon Verykios (University of Patras), Krijn de Jong (University of Utrecht), Harry Bitter (University of Wageningen), Ted Oyama (Universidade de Toquio), Eduardo Lombardo, Laura Cornaglia e John Munera (INCAPE), Robert Farrauto (Columbia University) e Heick Ehrich (Leibniz Institute for Catalysis), Cesar Steil (Université de Grenoble), Nicolas Bion, Françoise Epron, Frederic Richard (Université de Poitiers), Sebastien Paul e Robert Wojcieszak (Centrale Lille), Patrick Gelin e Francisco J. Cadete Santos Aires (Institut de Recherches sur la Catalyse), Andras  Erdohelyi (University of Szeged), Johannes Lercher (PNNL).

Eu também venho participando dos congressos nacionais de catálise, incialmente organizados pelo Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), começando no 4º Seminário de Catálise organizado pelo Arnaldo Faro em Canela (1987), e depois da criação da Sociedade Brasileira de Catálise (SBCat), na série dos Congressos Brasileiros de Catálise a partir de 1997 em Águas de Lindoia. Em vários destes seminários/congressos participei das comissões organizadora ou científica, sendo o presidente da comissão científica do 15º Congresso Brasileiro de Catálise realizado em Armação de Búzios em 2009. Com relação a SBCat, eu fui supervisor da regional 2 (Rio/Minas) em dois períodos (2007-2009; 2009-2011). Por duas vezes, eu fui agraciado pela SBCat com dois prêmios: Jovem Pesquisador em Catálise (2001) no 11º Congresso Brasileiro de Catálise em Bento Gonçalves e Pesquisador em Catálise (2011) no 16º Congresso Brasileiro de Catálise em Campos do Jordão.

Já se passaram muitos anos desde que comecei a trabalhar na área de catálise. Devo muito do que realizei a colegas e alunos com quem trabalhei ao longo desses anos. Vivi muitas crises econômicas, mas nunca passei por um período tão conturbado como nessa crise sanitária! Mas este é um lado fascinante da catálise pois mesmo nessa situação, nós podemos tentar contribuir com o que aprendemos para ajudar a ter um mundo melhor.

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