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Resido, desde meu nascimento, na cidade de Vespasiano (região metropolitana de Belo Horizonte), onde desde o jardim de infância, frequentei escolas da rede pública. No último ano do ensino fundamental, devido ao meu desempenho escolar, fui contemplada com uma bolsa para um curso preparatório voltado aos processos seletivos do CEFET -MG e COLTEC, um acontecimento que foi um divisor de águas em minha vida, até então, restrita aos cenários e às expectativas de uma cidade interiorana.
Devido minha afinidade pelas aulas de Ciências, optei pela Química como escolha para a realização dos processos seletivos. Assim, ingressei no CEFET-MG, e iniciei meu primeiro contato com a Química e, paralelamente, com um mundo totalmente diferente da minha realidade. Não foram três anos fáceis.... Lembro-me de quão desafiador foi me adaptar ao nível dos conteúdos ministrados, especialmente em comparação com meus colegas, em sua maioria oriundos de escolas particulares tradicionais de Belo Horizonte.
Mas, eu amava as aulas de Química e me via inclinada a cursar Engenharia Química. No entanto, a conclusão do curso técnico exigia a realização de um estágio, o qual realizei em uma indústria cimenteira de Vespasiano. Neste estágio tive a oportunidade de conhecer profissionais da área e entender que o curso de Engenheira não correspondia às minhas expectativas profissionais. Diante disso, optei por prestar vestibular para o curso de Química na UFMG, sendo aprovada na primeira tentativa, graças à sólida formação adquirida no CEFET-MG.
Ao final do 1° período da graduação, já podendo ingressar na iniciação cientifica, fui em busca de professores com vagas disponíveis no Departamento de Química. Assim, conheci a Profa. Elena V. Gusevskaya e, posteriormente o Prof. Eduardo Nicolau dos Santos que me acolheram no Laboratório de Catálise, no qual permaneci do 2° período da minha graduação até a conclusão do meu doutorado e a realização de pós-doutorado.
Neste laboratório, pude conviver com pessoas singulares e especiais para minha vida pessoal e profissional. Tive a oportunidade de me aperfeiçoar a nível pessoal e profissional e, acima de tudo, ampliar meus horizontes e sonhos. E, ao concluir a graduação, já tinha plena certeza de que gostaria de seguir a carreira docente no ensino superior.
A iniciação cientifica possibilitou minha participação em eventos científicos regionais e nacionais na área da Química. Mas, foi durante o mestrado, em 2003, que participei do meu primeiro congresso (CBCat) realizado em Angra dos Reis organizado pela da Sociedade Brasileira de Catálise (SBCat). Tive a oportunidade de conhecer pesquisadores nacionais e internacionais na área, além de compreender mais profundamente as diversas aplicações da Catálise, e pude assim, confirmar o caráter altamente multidisciplinar dessa área, onde os variados aspectos da Química se entrelaçam. Desde então, não tive dúvidas de que essa seria a minha área de atuação como professora universitária.
Finalizei minha formação acadêmica sob a orientação das professoras Elena Gusevskaya e Patricia A. Robles-Azocar, duas mulheres que, até hoje, são grandes referências e inspirações para mim, e pelas quais tenho grande admiração.
Após concluir o doutorado, participei, em curto intervalo de tempo, de dois concursos públicos para professora, na UFSJ e na UFOP. Embora tenha iniciado minha carreira na UFSJ, atualmente atuo na UFOP, onde, com muito orgulho e dedicação, coordeno, juntamente com a professora Camila Grossi Vieira, as atividades de pesquisa do Laboratório de Catálise (LabCat). Nesse espaço, desenvolvemos estudos voltados à valorização de matérias-primas biorrenováveis para a produção de compostos de interesse da indústria química, com foco na viabilidade econômica e sustentabilidade. Desta minha formação até hoje, empregando-se a catálise por ácidos, atuei no desenvolvimento de variados processos registrados em 32 artigos e 16 solicitações de depósito de patentes (sendo 12 já são concedidas).
Meu nome é Ataualpa A. C. Braga, sou professor do Instituto de Química da USP, em São Paulo. Para explicar como a Catálise mudou minha vida, tanto pessoal quanto profissionalmente, preciso começar com um pouco de contexto. Sou da primeira geração da minha família a cursar o ensino superior — e não foi fácil. Filho de uma dona de casa (Maria do Carmo) e de um peão de obra que se especializou em lubrificação (Antonio Braga), nasci em Foz do Iguaçu, em função do trabalho de meu pai na Itaipu. Desde então, não parei de me mudar: onde havia um rio e uma represa, lá estávamos nós. Morei em 14 cidades diferentes, incluindo dois anos em Nassiriya, no Iraque. De volta ao Brasil, fiz o antigo colegial em Planura, Minas Gerais, até passar no vestibular para Química na Unicamp (Campinas).
Desde o primeiro ano da graduação, tive minha primeira oportunidade de pesquisa no grupo do Prof. Pires Valente (Química Analítica), desenvolvendo estratégias de pré-concentração de pesticidas para cromatografia gasosa. No último ano, movido pela curiosidade sobre processos físico-químicos em nível atômico e pela vontade de aprender programação, migrei para o nascente grupo de Química Computacional do Prof. Nelson Morgon. Estudei equilíbrios ceto-enólicos e desenvolvi conjuntos de funções de base (funções gaussianas para construir os orbitais atômicos e moleculares) pelo método da coordenada geradora. Defendi o mestrado com a convicção de que seguiria na química teórica.
Em 2000, iniciei o doutorado na Unicamp, ainda no grupo do Prof. Morgon, estudando propriedades de fulerenos endoétricos via o método híbrido ONIOM — que combina mecânica quântica e mecânica molecular. Ao revisar a literatura, conheci o trabalho do Prof. Feliu Maseras, que, na época de pós-doutorado com o Prof. Morokuma, foi pioneiro na implementação desse tipo de método híbrido. O Prof. Maseras já estava estabelecido como líder de grupo na UAB (Universidade Autônoma de Barcelona) e interessado em catálise. Embora meu conhecimento no tema se restringisse às aulas da graduação, decidi aceitar o desafio de mudar completamente o tema do meu doutorado e colaborar com ele — decisão da qual nunca me arrependi, pois mudou minha trajetória.
Nosso objetivo era aplicar o método ONIOM ao estudo da reação de Suzuki–Miyaura, focando na etapa de transmetalação e nos caminhos associativo e dissociativo envolvendo ligantes fosfina em complexos de paládio. O principal resultado foi publicado em 2005 no Journal of the American Chemical Society — artigo citado pelo próprio Suzuki em sua palestra ao receber o Prêmio Nobel, em 2010. Após defender o doutorado, fui convidado para um pós-doutorado no ICIQ (Instituto Catalão de Investigação Química), em Tarragona, também sob supervisão do Prof. Maseras. Minha esposa (Andreia), minha filha (Laís) e eu nos mudamos para a Catalunha com planos de permanecer um ano — e tudo ia tão bem, profissionalmente e pessoalmente, que acabamos ficando seis anos!
Em 2011, retornei ao Brasil para um pós-doutorado na Unicamp, com um projeto de catálise homogênea envolvendo reações de Heck–Matsuda, em colaboração com o Prof. Carlos Roque e sob supervisão do Prof. Morgon. Em 2012, ingressei no Instituto de Química da USP, onde estou até hoje. Tenho orgulho de termos formado 10 doutores e 3 mestres nesses anos. Nosso grupo começou focado no estudo de mecanismos em catálise homogênea e, atualmente, atua em temas diversos — com destaque recente, ainda em fase seminal, para a catálise heterogênea envolvendo zeólitas.
Olho para trás e vejo como a Catálise foi, de fato, um divisor de águas na minha vida. Compartilhar essa trajetória na SBCat é um privilégio. O projeto “Quem Somos?” é uma excelente iniciativa, que espero possa aproximar ainda mais nosso grupo — que tem forte vocação para colaborações com grupos experimentais — de pesquisadores interessados no desenvolvimento de processos catalíticos cada vez mais eficientes.
A minha história começou em Campinas, de onde sou natural. Sempre estudei em escolas públicas, por sinal, as melhores e mais concorridas naquela época. Fiz cursinho preparatório para a Unicamp e tive aulas de Química muito interessantes, daí veio meu interesse pela Engenharia Química, já que também gostava de Matemática. Comecei o curso em 1978 e terminei em 1982. Durante o curso não tive a oportunidade de trabalhos em laboratório uma vez que muitos ainda estavam sendo montados e eram muito incipientes. Naquela época estava bem difícil conseguir emprego. Acabei entrando em 1983 para o mestrado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em Engenharia Química. Fiquei apaixonado pelo ambiente, pelos professores e logo tive proposta de um ótimo emprego, mas disse que só assumiria se pudesse fazer mestrado em paralelo. A empresa não autorizou e então segui no mestrado. Fui orientado pelo Prof. Dilson Cardoso em dissertação na área de álcool química, desidrogenação de etanol a acetaldeído usando catalisador básico, mais especificamente MgO. Quando estava terminando o mestrado veio uma oportunidade de entrar na Copene e fazer parte de um grupo de pesquisa recém-criado e liderado pela Maria Isabel Paes da Silva em 1985. Meu trabalho foi desenvolver uma rota para produção de zeólita tipo A para secagem e que foi realizado no CENPES, na época a Copene era uma empresa coligada da PETROBRAS. Após 4 anos, quando o projeto já estava terminando e um teste na unidade da COPENE foi programado em um reator de leito fixo de by-pass, teve um concurso no CENPES/PETROBRAS e tive a felicidade de ser selecionado. Estava para ir para a COPENE em Salvador, mas acabei preferindo ficar no CENPES. Em 1989 comecei a trabalhar no CENPES, na Divisão de Catalisadores e mais especificamente na área de craqueamento catalítico ou FCC. Fiquei na área de desenvolvimento de zeólitas, realizando desenvolvimento de tecnologias de catalisadores para o Refino da Petrobras, bem como suporte técnico para a FCC S. A.. Tive o prazer de trabalhar com profissionais incríveis e um deles por muito tempo foi meu companheiro de sala e de projetos, falo do Yiu Lau Lam, que todos na nossa comunidade conhecem. Fiz estágio por alguns meses em Amsterdã na empresa que a PETROBRAS tem um convênio de cooperação tecnológica a Akzo, que depois mudou de nome para Albemarle e mais recentemente Ketjen. Trabalho há muito tempo na área de zeólitas e ao longo desse tempo já trabalhei, ainda que todo o tempo em FCC, com aluminas, aditivos de redução de enxofre em gasolina e aditivos de redução de emissões gasosas. Depois de 17 anos de terminado o mestrado comecei doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na COPPE em Engenharia Química em 2003. Fui orientado pelo Prof. Martin Schmal sendo que a PETROBRAS propiciou que eu fizesse parte na Universidade Politécnica de Valencia na Espanha, tendo o trabalho sido acompanhado pelo Prof. Avelino Corma. Meu trabalho foi na área de aditivos de redução de emissões gasosas em FCC tendo terminado o doutorado em 2007. Tive a oportunidade de aprender sobre o desempenho desses aditivos de redução de emissão de CO, SOx e NOx em diferentes escalas: unidades de laboratório, em planta piloto e em unidades comerciais e também o efeito nas reações de craqueamento catalítico. Participei e continuo participando de inúmeros testes de aditivos de redução de emissões gasosas nas refinarias da PETROBRAS na área de FCC e em outros processos de abatimento de emissões. Nessa área de emissões tive a oportunidade também de formar um grupo de Universidades como a UFRJ, PUC, UFSCar, UFBa e UFPB para estudar emissões gasosas na área de FCC que foi muito profícuo e prazeroso. Gostaria de encerrar esse texto agradecendo a todos gerentes na COPENE e na PETROBRAS, orientadores, colegas de estudos da UFSCar e UFRJ e colegas de trabalho do CENPES ao longo de tantos anos por toda ajuda, incentivo e confiança e que permitiram uma vida na área de catálise.
Sou engenharia química e durante a graduacao na UNIPAMPA fui cativada pelo potencial dos materiais. Durante o TCC, mergulhei na síntese de meios filtrantes a partir da sílica da casca de arroz - resíduo na nossa região - percebi como a ciência tem o poder transformador. Com apoio do professor Felipe Berutti nas caracterizações, descobri a magia da estrutura dos materiais, foi também ali que entendi que queria ser cientista. No mestrado, na UFSM, sob orientação do professor Edson L. Foletto, mergulhei na síntese de espinélios e na fotocatálise. Ali, a faísca da catálise se acendeu. Aprendi sobre ciência, síntese e principalmente escrita científica. A SBCat entrou na minha vida nesse periodo com o CBCat, meu primeiro congresso, primeira apresentação oral, e marcou o início de minha trajetória. Embora tenha enfrentado críticas no mestrado, como ouvir que fotocatálise “não era catálise heterogênea” ou que minhas publicações só existiam pela minha orientação, usei essas experiências como impulso. Fui aprovada em 1º lugar no processo seletivo do doutorado do PPGEQ da UFSCar. Sob orientação do professor Mansur e colaboração da professora Elisabete Assaf, tive liberdade para desenvolver catalisadores de níquel suportados em céria e zircônia, aplicados à tri-reforma do metano, com foco no uso de líquidos iônicos como templates.
O professor Dilson Cardoso me guiou no entendimento dos surfactantes e suas interações, ampliando minha base científica. Eu nem sabia, mas esse conhecimento geraria uma patente no futuro. Nesse período que nasceu minha paixão por radiação síncrotron, cada beamtime era uma chance de aprender – eu estava em todos. Durante os experimentos de XPS no LNLS, aproximei-me da Dra. Cristiane Rodella, cuja energia e dedicação me inspiram até hoje. Essa conexão redefiniria minha trajetória, por indicação dela iniciei meu primeiro pós-doc em um grupo de pesquisa em baterias. Lembro do professor Dilson comentando que eu estava “na contramão”, numa analogia ao rumo que ele havia seguido em sua carreira, e de fato, era um novo caminho. Os professores Gustavo Doubek e Rubens Maciel Filho, da UNICAMP, confiaram em mim e me permitiram aplicar minha bagagem catalítica e experiência com síncrotron em baterias Li-ar, unindo catálise e eletroquímica. Desenvolvi um projeto premiado ao lado da mestranda Leticia M. S. Barros, e conquistamos uma patente licenciada pela Shell, sobre o uso de líquidos iônicos como catalisadores em eletrólitos para baterias. Mais do que resultados técnicos, essa fase me proporcionou crescimento humano e científico, agregando valores que não cabem no Lattes. O que começou com materiais naturais na fronteira do Brasil se expandiu para o mundo. A Cris, sabendo da minha paixao por sincrotron e minha vontade de me dedicar as linhas de luz, direcionou uma vaga de pós-doc aberta na linha de luz microXAS do SLS (Suíça), era o empurrao que eu precisa para alsar voos mais altos. Sem pretencao de ser aprovada foi que transitei da catálise para a eletroquímica, das bancadas e linhas de luz brasileiras às linhas de luz na Suíça. Sob supervisao do Dr. Dário Ferreira Sanchez na microXAS aprofundei-me em imageamento químico de catalisadores, utilizando radiação síncrotron e feixes de nêutrons (SINQ). Estabeleci colaborações e tive o prazer de um beamtime no MAXIV Laboratory, unindo o grupo PAINEIRA (LNLS) e a microXAS (SLS). Ali vi na prática, o que significa fazer pontes entre áreas, construindo ciência com trabalho em equipe. Hoje, sou pesquisadora na NTNU (Noruega) e sigo com olhar catalítico, atuando com caracterizações avançadas aplicadas à precipitação de sais, CCS e degradação de baterias. Na Noruega, onde a ciência encontra respiro e flexibilidade, nasceu meu maior amor, eu e o Nicholas Canabarro, co-catalisador dessa jornada, temos espaco para avancar na ciencia e criar a Maria Antonia. Quem sou? sou feita de gratidão e de resiliência e tenho vontade de fazer a diferença- bridging fields, como gosto de dizer.
Raquel Massad Cavalcante é professora da Escola de Química da UFRJ, atuando como coordenadora de graduação de Engenharia Química noturno e da especialização de Engenharia de Processos Upstream. Raquel iniciou sua trajetória na catálise em 2004 durante a graduação no NUCAT/COPPE/UFRJ, quando desenvolvia catalisadores para desidrogenação de propano. Mesmo tendo trabalhado em termodinâmica no mestrado, sua paixão por cinética e catálise a trouxe de volta no doutorado. Sua tese de doutorado teve como tema desenvolvimento de catalisadores e modelagem cinética para oxidação seletiva em correntes ricas em hidrogênio.
Sua pesquisa hoje foca em modelagem cinética e engenharia de processos sustentáveis, voltada para valorização de resíduos da agroindústria, biocombustíveis, energia limpa e captura e sequestro de carbono.