12 04 SBCAT 2020 quemsomos NotíciaInicio lembrando de uma conversa que tive com Sibele, no qual relatávamos que era mais fácil falar de zeólitas do que de nós mesmas. No meu caso a dificuldade aumentou de forma significativa ao ler o relato de tantos colegas pesquisadores da SBCat que me inspiram e me motivam.

Nasci em Martins, Serra do interior do Rio Grande do Norte. Fiz todo o ensino básico em escola pública. Em 2004 ingressei no curso de Química da UERN e por dificuldades financeiras morei o período de graduação em uma residência universitária, sendo esse um dos períodos em que mais aprendi em minha vida, tanto cientificamente como também socialmente. Vivi intensamente minha graduação, participei de projetos e monitorias. Fiz iniciação científica com o prof. Luiz Di Souza, mais voltado para parte de produção de biocombustíveis. Não tive contato com a pesquisa em catálise na graduação, pois na UERN não tinha grupos de pesquisa nessa área. Com o término da graduação tive a certeza que queria seguir a carreira acadêmica, o fato de unir ensino, pesquisa e extensão e poder contribuir na formação de pessoas me encantou e encanta até hoje.

Em 2008 fui fazer mestrado em química na UFRN, não conhecia nenhum professor de lá e sai literalmente batendo nas portas. Foi quando tive contato com o prof. Antônio Araújo, que me aceitou como orientanda e a coorientação de Luiz, sendo que de início não seria para trabalhar com catálise e sim continuar na parte de biocombustíveis avaliando a estabilidade oxidativa. Mas foi nesta etapa que tive o primeiro contato com pesquisas da área de catálise, passava o dia todo na Universidade e isso me fez acompanhar trabalhos de amigos e parceiros do Laboratório de Catálise e Petroquímica, parcerias essas que perduram até os dias atuais. Iniciei a participação em eventos de catálise e fui me encantando e me apaixonando por essa área de pesquisa. Nestes eventos pude conhecer muitos pesquisadores e em especial mulheres que me inspiraram e motivaram com suas pesquisas e trajetórias. Foi nessa época que conheci Vinícius, parceiro do meu primeiro artigo científico internacional, brincamos que a escrita desse artigo teve 100 % de aproveitamento, pois nos rendeu também um namoro, posterior casamento e uma grande parceria científica.

Em 2010 ingressei no doutorado em química na UFRN, com os mesmos orientadores do mestrado, aprofundando os estudos na catálise me dediquei a síntese de materiais mesoporosos com inserção de metais. Nessa época conheci Sibele, Katia, Geraldo Eduardo e muitos outros que são presentes que a catálise me deu. Tive a oportunidade de fazer medidas na Universidad de Málaga e na Universidad Rey Juan Carlos, na Espanha.

No ano de 2010 estávamos em tempos de expansão das Universidades, havendo muitos concursos no nosso país e ao saber que o concurso da UERN seria para mestre fiz a seleção e fui aprovada, retornando à instituição como professora.  Continuei trabalhando com Luiz e lancei a ideia de abrirmos uma linha de pesquisa em catálise, sendo criado o LACAM – Laboratório de Catálise, Ambiente e Materiais. Foram quatro anos de muita dedicação à catálise, pois ao mesmo tempo que seguia meu doutoramento, estava dando aula e criando um grupo de pesquisa na UERN. A Luiz (in memoriam) minha gratidão e reconhecimento por toda participação que teve no meu desenvolvimento científico.  

Após o doutorado vieram os primeiros projetos aprovados. Entrei também como professora no Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais (PPGCN/UERN), orientando trabalhos voltados para catálise. Desde então são vários estudantes que fizeram ou fazem iniciação científica e mestrado na UERN com a temática em catálise. Ao tempo de amadurecimento científico e que deveria ser um período de expansão para as pesquisas, entramos em um período difícil do nosso país e duro para o jovem pesquisador, pois as oportunidades de fomento são poucas, mas como fala a música “Apesar de você amanhã há de ser outro dia”.

Para fechar, sinto que estou só começando, pretendo continuar nessa caminhada que me faz feliz e realizada, seguirei estudando, aprendendo e buscando as oportunidades com o objetivo de dar minha contribuição na catálise e na formação de novos catalíticos.

16 03 SBCAT LuizCarlos NotíciaA Catálise quase que se confunde com minha vida profissional. Desde o curso técnico, nas matérias sobre processos petroquímicos, eu sonhava aprofundar naquela área. Algo me atraía e eu nem sonhava ainda que eram processos catalíticos na maior parte das etapas. Na graduação, os primeiros trabalhos foram com catálise ambiental. Hoje desenvolvo pesquisas quase sempre ligadas à catálise ou que foram inspiradas nela. Além disso, grandes amigos e pessoas que sou admirador foram trazidas pela catálise. Ah, a minha esposa também (rsrs). As pessoas são tantas que poderia cometer uma injustiça e esquecer alguém, mas não poderia deixar de falar do meus mestres Rochel e Fabris e da Sibele Pergher, que me deu meu primeiro emprego na URI-Erechim. Obrigado.

Atualmente sou professor Titular da UFMG e desenvolvo pesquisas em Química Ambiental e Desenvolvimento de Novos Materiais, principalmente nos seguintes temas: compostos nanoestruturados de nióbio, carvão ativado, óxido de ferro, catálise, adsorção e catálise.

Tenho me dedicado a trabalhos com empresas visando a transferencia de tecnologias, sendo que 20 patentes foram depositadas junto ao INPI. O processo descrito por uma das patentes foi licenciada pela empresa Verti Ecotecnologias (BR1320150067-6), sendo já testada em escala piloto e realizado um estudo de viabilidade técnica e econômica. Um segundo processo foi feito pedido de patente internacional com a Petrobras (PCT/BR2012/000115). STARTUP. Duas empresas (Fertilitatis Innovatio e Nanonib Nanotecnologia) foram geradas a partir de pesquisas desenvolvidas sob minha coordenação na UFMG, em parcerias com investidores privados.

Sou sócio da Startup NANONIB - Nanotecnologia e Inovação em Nióbio localizada no Parque Tecnológico de BH, empresa criada para explorar a tecnologia gerada durante a pesquisa na UFMG. A tecnologia trata da produção de uma nova molécula empregando compostos de nióbio comerciais. Essa molécula apresentou excelente capacidade na eliminação do coronavírus em superfícies, inclusive a pele. Além disso, diferente de outros produtos no mercado, a tecnologia não emprega álcool e protege a superfície por 48h. O produto comercial foi batizado de INNIB-41 e aguarda a liberação da Anvisa para a produção comercial. É importante ressaltar que já temos entendimentos com grandes distribuidores nacionais para a comercialização do produto, que acreditamos poderá ser mais uma opção ajudar no combate ao coronavírus. O valor do produto permitirá acesso às classes sociais mais baixas.

Fui convidado a ser sócio da empresa Fertilitatis Innovatio que trata de reciclagem de um resíduo industrial para produzir compostos com alto valor agregado para a agroindústria. A empresa está em fase de montagem e os investimentos já realizados por empresários do setor.

22 03 SBCAT MariaAuxiliadora NotíciaQuem sou eu? Sinceramente, ainda não descobri e nunca parei para pensar sobre isso. Fui simplesmente seguindo o curso das águas. Nasci no Rio de Janeiro, mas não sou carioca tão da gema assim. Gosto de dias bonitos, mas não suporto calor kkk. A química entrou na minha vida por acaso pois queria fazer um segundo grau profissionalizante e perto de casa. Daí, ou cursava formação de professores (antigo normal) ou técnico em química. Como sempre gostei mais de exatas, não tenho habilidade com trabalhos manuais, escolhi a química e me identifiquei.

Foram anos intensos e de muito estudo, mas ao fazer um teste vocacional, no último ano e antes do vestibular, o resultado foi “Comunicação”. Comprei o caderno de inscrição para o vestibular unificado, preenchi para tentar comunicação e sem pensar, mas a noite acordei nervosa e chorando, não era isso que eu queria realmente e acordei meu pai que com toda calma disse que compraria outro caderno e que eu escutasse o meu coração (na verdade minha mente) e escolhesse o curso que me realizasse como profissional e me fizesse mais feliz. Escolhi Engenharia Química e foi minha irmã que achou o meu número no jornal aprovada para a UFRJ. A primeira vez que entrei no campus do Fundão me senti uma formiguinha naquela imensidão. Hoje o CT é uma extensão da minha casa e, desde 1982 acho que passei mais tempo por lá do que em casa.

Entrei no mesmo semestre que o Victor Teixeira e o Fábio Bellot mas a amizade só veio mesmo durante a pós graduação no Programa de Engenharia Química da COPPE. Fiz iniciação científica no LADEQ/EQ com o Professor Ricardo Medronho e quando ele me levou ao porão do PEQ para conhecer eu pensei com meus botões que nunca trabalharia naquele lugar. Paguei a língua e passei uma vida naquele porão e não me arrependo pois foram anos de muito conhecimento, amizade, lágrimas e alegria. Meu estágio foi realizado no INT, na área de polímeros e a catálise só entrou na minha vida durante os créditos do mestrado quando o Professor Martin Schmal, ao dar o curso de cinética, falava com paixão da catálise e convencia qualquer aluno, ainda indeciso, como era o meu caso, a seguir por esse caminho.

Quando terminamos os créditos, em 1987, ele conseguiu inscrições para irmos ao Seminário Brasileiro de Catálise, em Canela/RS. Eu e mais 3 amigos, entre eles o Bellot que já estava decidido desde sempre, topamos ir. Foi meu primeiro encontro de catálise e também paixão à primeira vista. Palestras de alto nível e em um ambiente acolhedor e familiar, mesmo com as discussões acirradas durante as apresentações. Fui integrada ao grupo do NUCAT (ainda RCA), presente no evento, mesmo sem ter uma decisão final sobre a área da minha dissertação, e começou ali as minhas sessões de fotos dos Congressos de Catálise. Voltei com a decisão tomada e apaixonada por aquele ambiente, ciência de qualidade com alegria e amizade. Claro que tem divergências, mas qual família não tem? Fiz meu mestrado na área de desativação de catalisadores de HDT sob a orientação do Professor Schmal, que me ensinou a ter persistência e paixão pelo trabalho, e pelo Professor Roger Frety, com quem aprendi que todo resultado é importante desde que compreendido e explicado. Naquela época fui convidada pelo Schmal e pelo Frety a integrar a equipe de um projeto com a Salgema, em paralelo a minha dissertação, mas em tema similar, e isso foi excelente para minha formação já que transitava entre estudos fundamentais e uma visão prática de aplicação em condições reais. Nessa época tivemos que montar uma unidade do zero e tive a ajuda do Químico Antonio Jose de Almeida (Macarrão) que foi essencial para o desenvolvimento da minha tese e do projeto e nasceu aí uma parceria de trabalho que dura até hoje, além de toda a equipe do NUCAT, fundamental para o sucesso de qualquer trabalho do grupo. Terminei o mestrado e iniciei o doutorado em seguida, sob a orientação do Professor Schmal e agora na área de catálise ambiental. Novamente, desenvolvi minha tese e em paralelo fiz parte da equipe de projetos na área ambiental.

Essa rotina sempre com adrenalina lá em cima foi um desafio e apaixonante, apesar de muitas vezes desgastante. Como nunca fui de programar as coisas, mas seguir o curso das águas, assim que terminei o doutorado Schmal me convidou para continuar trabalhando com ele nos projetos. Inicialmente como bolsista e depois fui contratada como pesquisadora pela Fundação Coppetec. Foram mais de 20 anos de parceria tanto em projetos como na orientação de alunos. Trabalho produtivo e, também, com divergências que fazem parte do crescimento pessoal de todo ser humano. Como pesquisadora continuei a pareceria com o Victor Teixeira (meu amigo e irmão de coração) também em diversos projetos e dividindo algumas orientações. Por focar minha história profissional em projetos Universidade/Empresa transitei por várias áreas como HDT, Catálise ambiental, produção de hidrogênio, polimerização, desativação de catalisadores FCC, controle de emissões DeNOx/DeSOx e Fischer-Tropsch (que caiu de paraquedas nos meus ombros e se tornou mais uma paixão).

Trabalhar em projetos com foco nos testes de avaliação me fez permanecer quase que a totalidade do tempo nos laboratórios do NUCAT e, como consequência natural, acabei auxiliando em várias teses, mesmo as que eu não tinha uma pareceria direta. Essa troca foi fundamental para o meu crescimento profissional e, principalmente, como ser humano. Ajudei e aprendi muito. Como não existia a barreira formal de hierarquia a troca de experiências fluía naturalmente. São tantas pessoas que passaram por ali que eu seria injusta em citar nomes pois esqueceria alguns. Tenho amigos de verdade de todas as idades e gerações diferentes e como é bom encontrá-los nos congressos da vida e sentir que a amizade ainda é a mesma. Além dos laboratórios, a copa é um local fundamental para o desenvolvimento de qualquer trabalho. Durante um simples café a gente muda uma tese, discute resultados, chora, ri, levanta o astral e continua a jornada. Tenho carinho por todos os que passaram e os que continuam fazendo parte da minha vida. Fui madrinha de casamentos, testemunha de romances, madrinha de batismo (Nathalie já está uma moça linda e é meu orgulho). Ciência de qualidade em um ambiente familiar. Isso é que me dá força para continuar, mesmo diante de adversidades. Com o falecimento precoce do Victor, uma pessoa foi fundamental para eu continuar minha jornada, foi a professora Lídia Chaloub (obrigada de coração pelos conselhos em um momento tão delicado) e segui minha jornada junto com a Professora Vera Martins Salim, que o tempo e as circunstâncias estreitaram os laços profissionais e de amizade. Tenho muito orgulho de pertencer ao grupo do NUCAT e ao ver, atualmente, novas lideranças despontando, me dá a certeza da continuidade de um trabalho fecundo, conjunto e de muito sucesso.

Após aquele primeiro Seminário de Catálise em 1987 eu passei a tirar fotos em todas as edições posteriores e acho que muita gente me conhece como a fotógrafa ‘louca” contatada pela SBCat que fica tirando foto das mesas e que a grande maioria nunca tem acesso. Passei a integrar a Sociedade mais efetivamente quando o Professor Dilson Cardoso me convidou para assumir a subsecretaria de comunicação. A ideia dele era movimentar a sociedade com boletins periódicos. Como tudo era muito limitado na época eu consegui colocar a logo no corpo do meu e-mail e assim nasceu o Informativo SBCat. Muita coisa mudou, novas diretorias, mas eu continuava lá com os Informativos SBCat. Em 2011, Marco Fraga me convidou para compor uma chapa para a regional 2 como secretária de cursos, publicações, informativos e eventos. Trabalhamos juntos por 2 mandatos, junto com Fátima Zotin, Lisiane e Morgado voltamos a promover cursos e colocamos a regional nas redes sociais, criando a página no facebook. Continuei na regional até 2019, agora sob a supervisão do Claudio Mota, quando a Sibele me convidou para integrar a chapa da SBCat em 2019, representando a regional 2. Aceitei, inicialmente, como uma homenagem ao Victor mas a o que seria uma parceria profissional se tornou uma grande amizade. Hoje somos um quarteto (Sibele, Katia, Cris e eu), ou melhor, um quinteto porque Lu é nosso braço direito e esquerdo kkk, de amigas que vibram com cada postagem ou evento da Sociedade. Professor Dilson não sei se é isso que você imaginou, mas sempre lembro de você quando movimentamos a página e as redes sociais.

Quem sou eu? Sou a Maria para o pessoal da padaria e do telemarketing, sou Auxiliadora para minha mãe, Dora ou Dorinha para os amigos e familiares, M. A. S. Baldanza nos artigos, a doida que tira fotos nos CBCats e vai de mesa em mesa mesmo sem conhecer algumas pessoas kkk, sou alguém ainda pelo caminho ensinando e aprendendo para um dia, quem sabe, encontrar essa resposta.

Um dica: façam tudo na vida, mesmo as mais trabalhosas e rotineiras, com paixão.

Termino com trechos do poema “A idade de ser feliz” que mostra como estou encarando a vida atualmente.

Existe somente uma idade para a gente ser feliz
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-los
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos
Uma só idade para a gente se encantar com a vida
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo nem culpa de sentir prazerEssa idade, tão fugaz na vida da gente,
chama-se presente,
e tem apenas a duração do instante que passa ...
... doce pássaro do aqui e agora
que quando se dá por ele já partiu para nunca mais!

Geraldo Eustáquio de Souza

29 03 SBCAT 2020 quemsomos Notícia“Quem Somos” Dr. Cristiane B. Rodella – pesquisadora Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), que faz parte do Centro de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).

Eu sou física, mas com o coração de química e engenheira química e grande paixão pela catálise. Fiz graduação em física na USP de São Carlos, pois sempre gostei de exatas eprincipalmente física. No segundo ano de graduação tive a sorte de fazer iniciação científica (IC) no grupo de materiais da IFSC. Enquanto eu misturava e mexia até secar, 5 litros de solução contendo uma dezena de compostos químicas - com intuito de preparar e caracterizar poucas gramas de uma cerâmica supercondutora - eu ouvia dos meus colegas o que era processo Sol-Gel, Xerogel, aerogel, monolitos, método Pechini e porosidade e sonhava com projeto melhor em síntese química.

Um professor visitante do grupo estava à procura de alunos de IC e uma amiga da graduação tinha interesse. Marquei a conversa, fiz as apresentações e fiquei na discussão. Então o professor começou a falar sobre catálise heterogênea, catalisadores ativos e seletivos, área superficial, estrutura cristalina, grupos superficiais e aimportância científica e o impacto industrial que essa área trazia. Então não me contive e gritei: essa bolsa é minha!! Assim começou meu trabalho com o Prof. Ariovaldo Florentino (já falecido) e Profa. Margarida J. Saeki (UNESP-Botucatu) que durou IC, mestrado e doutorado. Porém, em cada etapa o projeto ficava mais ousado na catálise para uma física, então tinha que pedir ajuda.

Assim comecei a interagir com grandes nomes nessa área em São Carlos, a Profa. Elisabete Assaf, o Prof. Dilson Cardoso, Prof. Mansur, Prof. José Maria C. Bueno e a Prof. Clélia M. P. Marques. Foram cursos, discussões, pedidos de análises de TPR, socorro com a minha instalação de reação catalítica e muito aprendizado. No final do doutorado, o Prof. Valmor R.Mastelaro foi contratado no grupo que eu trabalhava na IFSC e passou a ser meu co-orientador. Ele incentivou enviar proposta para o recém-aberto LNLS e eu sem saber onde isso ia dar, aceitei. Chegando lá para os experimentos de XAS, já não queria mais sair.

Terminado o doutorado, fui para mais um desafio na catálise, pós-doc com a Prof. Regina Buffon no IQ-UNICAMP. Lembro que tive que procurar na tabela periódica se o rênio, sítio ativo do meu catalisador, realmente existia, pois nunca tinha ouvido falar. Aprendi a secar reagente, trabalhar com Schlenk, trabalhar com adsorção de piridina para estudar sítios ácidos e é claro, fiz ótimas amizades nos pedidos de socorro com a Prof. Heloise Pastore (Lolly) e o Prof. Ulf Schuchardt e muitos alunos da época.

Passei um ano como pós-doc do grupo do Prof. Oswaldo L. Alves (IQ-UNICAMP) e tenho muito a agradecer ao seu entusiasmo, motivação e as grandes amizades feitas neste grupo. Então apareceu uma vaga para pesquisador em catálise no LNLS para trabalhar em projeto industrial com a Prof. Daniela Zanchet. Apliquei e fui selecionada. Acho que haviaescrito isto “nas estrelas” no dia que fui fazer meu primeiro experimento lá!! Passei por projetos em colaboração com várias indústrias, passando por várias técnicas de caracterização usando luz síncrotrone aprendendo sobre diferentes catalisadores e suas propriedades físicas e químicas.

Após uma grande reestruturação no LNLS, passei a ser pesquisadora e a estar conectada ao grupo de difração de raios X. Nesse momento, decidi trabalhar com catalisadores à base de carbetos de tungstênio para conversão de biomassa. Então minha amiga Dr. Silvia F. Moya alertou, que eu tinha que conhecer e colaborar com o Prof. Victor Teixeira (saudoso) do PEQ-NUCAT-UFRJ. Após um email, já estava co-orientando alunos, fazendo projetos em parceiras e indo frequentemente à UFRJ para reuniões e bancas. Assim fui apresentada a Dora, a Luciana, a Sibele e mais tarde a Katia (diretoria feminina da SBCat), entre muitos outros pesquisadores e alunos que tive o prazer de conhecer e interagir.

Passei a ser líder do grupo de XRD, coordenar a linha XPD do Sirius e ao mesmo tempo trabalhando com catalisadores para conversão de biomassa. Porém, ficava cada vez mais claro que a minha atuação direta, na síntese de catalisadores e reações catalíticas, estava além da minha competência de coração na química e na engenharia química. Além disso, as oportunidades e demandas para o desenvolvimento de instrumentação para experimentos in situ e operando de catálise no LNLS, cresciam e me atraiam cada vez mais. Assim fui fechando uma porta e abrindo outra, bem mais confortável e factívelcom meu trabalho dentro do LNLS.

Nesse contexto, o Sirius (fonte de luz síncrotron de 4a geração) também foi se materializando e ficando cada vez mais evidente a mudança de paradigma na interação e atuação dos usuários da catálise com o Siriusque teria (terá) que acontecer. Além, de se abrir diante de mim um “universo” de oportunidades de novos e desafiadores projetos científicos para a catálise nessa fonte de luz síncrotron poderosa e de ponta. Agora então, tenho o melhor emprego em ciência, segundo meu ponto de vista, pois estudo constantemente sobre novas técnicas de caracterização usando fontes de luz como o Sirius, pesquiso sobre os desafios e oportunidades em instrumentação para experimentos in situ e operando para a catálise e outros materiais funcionais. Aplico estes conhecimentos na montagem da estação que irei coordenar no Sirius (Paineira – Powder X-rayDiffraction). Expando estes conhecimentos para outras linhas de luz do Sirius, principalmente as da divisão científica que faço parte, Divisão de Materiais Hierárquicos e Heterogêneos (DMH).

Finalizo meu texto do “Quem Somos” com o melhor de tudo na minha trajetória científica.Tenho o privilégio de atender a comunidade de catálise brasileira, como usuários, colaboradores, visitantes, curiosos, alunos e amigos. Nestes 15 anos de LNLS, já estou na terceira geração de catalíticos, ou seja, do aluno, do aluno do professor. Todos fizeram e fazem o que sou na ciência e na catálise e sou muito feliz!

16 03 SBCAT Katia NotíciaEu nasci e cresci em Porto Alegre. Meus pais, apesar de não terem tido acesso nem ao Ensino fundamental completo, sempre, entusiasmaram e apoiaram minha irmã e eu a estudar. Estudei em 3 excelentes Escolas (Todas Públicas). Confesso que eu que escolhi a do segundo grau (Ensino Médio). Minha escolha teve duas razões: a Escola Estadual Dom João Becker era conhecida como uma escola pública com uma formação bem exigente, o que me parecia o caminho para ingressar na Universidade Pública. Além disso, o ensino era profissionalizante. Lá tive a oportunidade de escolher a ênfase em Auxiliar de Laboratório de Análises Químicas. Depois de muita química e muita matemática o Vestibular (meu objetivo) nem me pareceu algo duro (como era na época). Ingressei na UFRGS, em Química.

Inicialmente, pensava que iria ser da área Industrial e optei pela ênfase Química Industrial. Nesta época (1985) que conheci minha atual melhor amiga, a catalítica Sibele Pergher. Durante a graduação fui monitora de Química Geral, tendo como colega meu amigo, também catalítico, José Ribeiro Gregório. Minha Iniciação em Pesquisa foi em Ecologia. Fui bolsista do CNPq, no Centro de Ecologia da UFRGS durante 3,5 anos, sendo orientada pelo Prof. Dr. Tuiskon Dick. Este período foi muito importante na minha formação, pois foi quando foi cultivada em mim a metodologia científica. Ao concluir o curso surgiu o desejo de realizar o Mestrado em área mais próxima da Química do que a experiência que a Ecologia me proporcionava. Na época, a seleção de Mestrado no PPGQ/UFRGS era só em março e eu me formei em julho. Então, por sugestão do colega catalítico, Adriano Lisboa Monteiro, fui conversar com o jovem Professor Roberto Fernando de Souza, que tinha uma Bolsa do CNPq de Aperfeiçoamento em Catálise.

Ingressei no Laboratório de Reatividade e Catálise (LRC) em 1990. Após o aperfeiçoamento ingressei no Mestrado, sob orientação do Prof. Roberto Fernando de Souza e da Profa. Michèle Oberson de Souza. Na minha Dissertação de Mestrado estudei o efeito da adição de fosfinas em reações de oligomerização do propeno catalisadas por complexo de níquel. Tendo em vista que quando conclui o Mestrado não existia ainda Doutorado no PPGQ/UFRGS usei a experiência do Prof. Roberto para a escolha onde desenvolver minha Tese. Ele me sugeriu fazer Doutorado pleno no Laboratoire de Chimie de Coordination (LCC), na Université Paul Sabatier – Toulouse, França, sob a orientação do Dr. Bernard Meunier. Na minha Tese desenvolvi novas bases de Schiff de Manganês visando a epoxidação enantiosseletiva de olefinas.

Com a experiência do período que tive a oportunidade de ser do grupo do Dr. Meunier acabei tendo uma formação complementar a do Roberto e da Michèle e fui convidada a retornar ao LRC. No meu retorno ao Brasil, fui bolsista Recém-Doutora (atual PDJ), sob supervisão do Roberto, estudando a epoxidação enantiosseletiva em sistemas bifásicos usando líquidos iônicos. Durante este período fui no 9° Seminário Brasileiro de Catálise, Evento em que foi fundada a SBCat. Com isso, me tornei sócia fundadora da SBCat, a qual sou atual Vice-Presidente. Neste mesmo Evento foi decidido transformar os nossos Encontros em Congressos e surgiu os queridos CBCATs. Gosto muito de participar de Eventos Científicos, mas o CBCAT é, sem dúvida, o que me sinto mais entre amigos e que adoro reencontrá-los e conhecer novos colegas. Tenho muitos amigos graças aos Eventos da Sociedade.

Na sequência, fui Professora Substituta do Departamento de Química Inorgânica da UFRGS (período que minha amizade com Sibele Pergher foi fortalecida enormemente). Depois, Pós-Doc, sob supervisão do Roberto, desenvolvendo novos complexos de níquel (com ligantes iminofosforanos e fosfóis) para oligomerização de olefinas em meio homogêneo e bifásico. E novamente substituta (longo período sem Concursos no Brasil, era Fernando Henrique).

Fui Professora horista da UNISC, por indicação do também catalítico Celso Camilo Moro e Professora da URI-Campus de Erechim a pedido dos meus amigos (principalmente Sibele Pergher), que estavam em um curso novo e sem um Professor que tivesse formação para dar o tópico de complexos de coordenação na disciplina de Química Inorgânica. Foi meu primeiro contrato por tempo indeterminado (que emoção para a época!). Porém, tinha assumido este compromisso principalmente por eles, pois Erechim é a 500 km de Porto Alegre, meu marido já era Professor na UFRGS e minha filha era bem pequena nesta época. Neste período já tinha tido todas as bolsas que o CNPq oferecia. Fiquei 2 semestres na URI, mas o CNPq criou a DTI-D, sendo assim pude assumir uma bolsa DTI-D em uma parceria LRC/CEPPED/BRASKEM, sob supervisão do Roberto (só para variar, hahaha) e sugerir ao meu amigo catalítico Marcelo Priebe Gil para assumir a Inorgânica da URI. Após o primeiro ano da bolsa DTI-D ocorreu o sonhado concurso na UFRGS, no qual eu e o Marcelo fomos aprovados.

Na Pesquisa, para a minha felicidade, me foi atribuído espaço físico com Roberto e Michèle, no LRC, Laboratório que eu já considerava minha casa. Ao ingressar na Universidade já iniciaram as orientações, muitos alunos já me conheciam por estar há tanto tempo por lá e também vieram (e ainda vem) muitos alunos da URI fazer pós-graduação comigo. Com isso, acabei descobrindo que aquele momento que pensei que estava só ajudando meus amigos, indo trabalhar na URI, fez toda a diferença no meu atual número de orientações de Mestrado, Doutorado e de supervisões de Pós-Doutorado. Após ingressar na UFRGS como Professora tive a oportunidade de desfrutar, como colega, da experiência do Roberto em nossas discussões científicas do LRC durante 7 anos. Nesta fase, o LRC já contava com mais Professores no grupo, entre eles José Ribeiro Gregório e Emilse Martini.

A partida precoce do Roberto nos abalou muito, mas conforme já relatei no in memoriam do Roberto, encontrar os alunos no dia seguinte a sua despedida no Laboratório dizendo que estavam fazendo as reações que combinaram com o Roberto, pois certamente seria o que ele esperaria deles nos encheu de coragem para continuar. A Equipe do LRC, atualmente, conta com mais Professores. Se juntaram a nós a catalítica Elisa Coutinho e a Eletroquímica Cristiane Oliveira. Além disso temos excelentes estudantes de Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado, os quais tornam nosso grupo muito especial para mim!

No LRC, oriento trabalhos em desenvolvimento de novos precursores catalíticos para a oligomerização e polimerização de olefinas, síntese de materiais com porosidade controlada para serem aplicados, principalmente, como suportes. Heterogeneização de catalisadores em zeólitas, materiais mesoporosos, argilas e fibras de carbono ativo. Os catalisadores heterogeneizados são aplicados em reações catalíticas de oligomerização e polimerização de olefinas e em uma linha de pesquisa de conversão de CO2 a carbonatos cíclicos, policarbonatos, ácido fórmico e metanol. Nosso tema mais recente é a síntese e aplicação de Ni-MOFs em reações de oligomerização de olefinas. Este texto descreve parte da trajetória que me torna QUEM SOU.

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